Trata-se da separação da retina chamada de neurossensorial de seu epitélio pigmentar. A primeira composta de células especializadas e muito diferenciadas especializadas em transformar os estímulos luminosos captados pelo olho para serem enviados ao cérebro; já o segundo, conhecido com Epitélio Pigmentar da Retina (EPR), é responsável, dentre outras funções, pela nutrição da retina neuro-sensorial.
Existem diversas causas e tipos de descolamento de retina, porém o principal mecanismo é a penetração do vítreo (gel presente no segmento posterior do globo ocular) entre a retina neurosensorial e o EPR através de rupturas ou rasgos retinianos (fig 1).
Essas rupturas podem ocorrer devido à traumas oculares, degenerações na periferia da retina (como a degeneração lattice, por exemplo), separação abrupta do vítreo da superfície retiniana (chamado de descolamento agudo do vítreo posterior), trações vítreo-retinianas causadas por inflamações intra-oculares (uveítes), formas avançadas de retinopatia diabética, cirurgias intra-oculares, dentre outras.
Após a penetração do gel vítreo através do rasgo ou buraco retiniano o mesmo começa a progredir, separando cada vez mais a retina neurosensorial do seu epitélio pigmentar, com consequente acometimento da mácula, região central e mais nobre da retina, onde está a maior concentração de células responsáveis pela visão (fotorreceptores). Quando a região macular é acometida o prognóstico visual torna-se bastante reservado, mesmo com as mais modernas técnicas círúrgicas dispóniveis para reverter o descolamento. Outros mecanismos para o descolamento de retina incluem acúmulo de líquido entre as camadas retinianas (chamado de descolamento seroso da retina) ou, trações retinianas causadas por proliferações e áreas de fibrose na cavidade vítrea (chamado de descolamento de retina tracional).
O descolamento de retina inicial (quando a mácula ainda não foi acometida) pode ser assintomático ou acompanhado de sintomas visuais como a visualização de flashes de luz, “moscas volantes”, raios luminosos ou perda de um campo específico de visão (o paciente só enxerga metade do seu campo visual, por exemplo – fig 2).
Devemos lembrar, no entanto, que os sintomas conhecidos por “moscas volantes” (ou floaters) são, em sua maioria, benignos e relacionados ao descolamento natural e fisiológico do vítreo posterior da superfície retiniana.
Estudos têm mostrado que a incidência de descolamentos de retina causados por rasgos retinianos é relativamente baixo, afetando cerca de um em cada 10.000 pessoas por ano. Muitos rasgos ou rupturas da retina podem não evoluir com seu descolamento. Devemos, no entanto, conhecer os seus fatores de risco, como:
O tratamento mais realizado atualmente é a fotocoagulação à laser de argônio, utilizando-se uma lente especial que permite boa visualização da retina além de possibilitar que o laser seja realizado apenas nas áreas retinianas acometidas pelos rasgos ou roturas. Este tratamento à laser tem caráter profilático e visa impedir que os rasgos ou roturas sejam infiltradas pelo vítreo, levando ao descolamento. Outro tratamento disponível e também bastante realizado é a crioterapia (“congelamento”) feito através de aparelho específico e realizado na parte externa do globo ocular, em área de rotura, causando uma reação inflamatória que provoca aderência dos tecidos ao redor do rasgo, impedindo sua progressão.
A vitrectomia é o procedimento cirúrgico mais moderno e que hoje é realizado com muita segurança e eficácia devido à alta tecnologia empregada nos aparelhos chamados de vitreófagos, responsáveis por remover o gel vítreo presente na câmara posterior do globo ocular (fig 3). Durante o ato cirúrgico a retina é novamente aderida ao Epitélio Pigmentar da Retina e o gel vítreo pode ser substituído temporariamente por óleo de silicone ou alguns tipos de gás, sendo este último progressivamente substituído por humor aquoso, líquido produzido por estruturas específicas do olho.
Consiste na colocação de uma faixa de silicone ao redor do globo ocular, sob os músculos retos (responsáveis pela motilidade do globo – fig. 4). Após esta etapa é realizada a drenagem do líquido que se encontra abaixo da retina descolada, promovendo a re-aderência da retina ao EPR. As roturas ou rasgos que geraram o descolamento são tratados através de crioterapia (já mencionada) ou laser. Nesta técnica o gel vítreo não é removido.
Procedimento menos comum nos dias atuais porém com certa eficácia em alguns casos selecionados. Realiza-se a injecção de uma bolha de gás para o espaço vítreo no interior do olho, permitindo que esta comprima os rasgos e a área de descolamento, promovendo sua aderência progressiva ao EPR. O tratamento dos rasgos ou roturas é feito mais comumente através de crioterapia.
Imagem de capa – Fonte: www.tedmontgomery.com